A Universidade da Madeira e a Associação de Colecções – Coleção Berardo, inauguram a exposição Viagem ao mundo das Cicas, no próximo dia 27 de maio, pelas 11.00h, no Colégio dos Jesuítas, Funchal.

A mostra, apresenta uma coleção inédita de ilustrações científicas de Cicas, da autoria do artista Sul-Africano Douglas Goode (n.1944), datadas entre 1970 e 1988, nunca antes expostas. Serão ainda mostrados exemplares desta espécie, provenientes do herbário do Grupo de Botânica da Madeira (GBM), recolhidos no Monte Palace Madeira – Tropical Garden, ao longo dos últimos anos.

Esta exposição surge no seguimento da assinatura de um protocolo de colaboração entre as instituições, em Setembro de 2022, com vista ao levantamento e documentação em base de dados, a disponibilizar à comunidade científica e civil, de todo o espólio botânico do Monte Palace Madeira. Esta ação, com coordenação científica do Professor Doutor Miguel Menezes de Sequeira, do GBM – Universidade da Madeira, inclui outros investigadores afiliados a Universidades e Centros de Investigação, nacionais e internacionais, dada a diversidade do Jardim Tropical.

Antecede esta exposição um Congresso, intitulado MADEIRA – um jardim Atlântico de raridades, que reúne parte dos investigadores nacionais e com a participação (via plataforma digital) da Doutora Vanessa M. Handley, do Montgomery Botanical Center (Flórida, EUA), reconhecida especialista mundial de Cicas. O Congresso terá lugar no auditório do Colégio dos Jesuítas, nos dias 25 e 26 de Maio.

A exposição, com curadoria de Carina Bento (diretora geral do Monte Palace Madeira), Álvaro Silva (curador das coleções da Associação de Colecções) e curadoria científica de Miguel Menezes de Sequeira (GBM – UMa) ficará patente ao público, com entrada gratuita, até ao final de agosto de 2023.

Viagem ao mundo das Cicas
No mundo da botânica muitas são as espécies em vias de extinção, sendo as Cicas, um destes casos.
Foi graças ao empenho de um Madeirense que no final da década de 1980 a Região Autónoma da Madeira acolheu uma coleção de referência mundial de Cicas no Monte Palace Madeira – Tropical Garden.
A visão do colecionador José Manuel Rodrigues Berardo, levou-o não só a acolher a coleção viva, bem como a adquirir uma extraordinária coleção de desenhos destas magníficas plantas, que aqui se expõem pela primeira vez.
Estas obras, da autoria do artista Sul-Africano Douglas Goode (n. 1944), considerado um dos maiores especialistas, constituem um registo único, pelo facto de documentarem entre os anos 1970 e 1988 espécimes no seu meio natural.
Acresce à raridade desta coleção, que se inclui no universo da arte na categoria de ilustração científica, a experiência do artista enquanto técnico do Museu de História Natural de Durban, que inscreveu nos desenhos informações importantes sobre os exemplares ilustrados. A sua persistência nas consecutivas visitas anuais às mesmas plantas, por forma a documentar as estruturas reprodutoras, que registou com mestria nos seus diversos estados de crescimento e maturação, são de um valor científico e uma beleza artística inestimável.
A massificação do registo fotográfico, aliada ao desenvolvimento da computação e da ilustração digital no início dos anos 1990, abriu um leque de novas possibilidades de representação botânica que colocou novos desafios à ilustração científica. Esta extensa coleção de desenhos, constitui-se como um documento histórico representativo de uma forma de registo científico com recurso a técnicas tradicionais do universo artístico.
A coleção de Cicas do Monte Palace Madeira, aberto ao público desde 1991, assume nos dias de hoje uma importância imensa para a preservação e disseminação desta espécie, uma vez que incorpora exemplares extintos no estado selvagem. O visitante tem agora a possibilidade de admirar exemplares raros no Jardim Tropical, bem como de se deliciar com a minúcia desta expressão artística, devendo esta exposição sensibilizar para a fragilidade do mundo natural e o esforço coletivo necessário para a salvaguarda das espécies em vias de extinção.

Carina Bento e Álvaro Silva
Monte Palace Madeira – Tropical Garden e Associação de Colecções | Coleção Berardo

Acerca das Cicas
As Cicas sensu lato (Cycadales) apresentam sementes nuas (sendo consideradas, portanto, como gimnospérmicas) e as atuais famílias são tidas como muito próximas do grupo mais antigo de plantas com sementes, com origem há cerca de 200 milhões de anos.
Estas plantas foram relativamente comuns no período Jurássico (c. 200–145 milhões de anos) e persistiram até hoje com escassa evolução da sua morfologia original, pelo que as poucas espécies atuais devem ser consideradas como relíquias evolutivas.
As Cicas compreendem três famílias (Cycadaceae, Stangeriaceae e Zamiaceae) incluindo 371 espécies, distribuídas em áreas mais quentes da América do Norte e do Sul, África, Ásia e Oceânia, divididas em 10 géneros: Bowenia (2), Ceratozamia (39), Cycas (118), Dioon (18), Encephalartos (65), Lepidozamia (2), Macrozamia (41), Microcycas (1), Stangeria (1), Zamia (84).
Cerca de 60% das Cicas estão ameaçadas de extinção (i.e. Criticamente Ameaçadas (CR), Ameaçadas (EN) ou Vulneráveis (VU) na Lista Vermelha da IUCN – União Internacional para Conservação da Natureza), tornando-as o grupo de espécies de plantas mais ameaçado globalmente.
Os géneros Encephalartos, Zamia e Cycas são os que incluem maior número de espécies Criticamente Ameaçadas. Os riscos de extinção relacionam-se com a complexidade dos seus ciclos reprodutivos, polinização e dispersão de sementes.
Nesta exposição encontram-se ilustradas 52 espécies do género Encephalartos, uma espécie do género Cycas e ainda uma espécie do género Stangeria, todas elas Africanas. Treze das espécies representadas do género Encephalartos são consideradas como Criticamente Ameaçadas e duas estão extintas na natureza (Encephalartos heenanii e E. woodii).

Miguel Pinto da Silva Menezes de Sequeira
Professor Auxiliar com Agregação
Grupo de Botânica da Madeira & Herbarium Rev. Richard Thomas Lowe
Faculdade de Ciências da Vida, Universidade da Madeira

Informações
Colégio dos Jesuítas, Funchal

Horário:
10.00h às 17.00h (segunda a sexta)
10.00h às 13.00h (sábados)
Encerrado aos domingos e feriados

Entrada Gratuita